A propósito dos dois volumes de Literatura Tradicional da Serra de São Mamede (Castelo de Vide, Marvão e Portalegre), que publicámos recentemente na colecção à mão de respigar, o autor Ruy Ventura foi entrevistado para o Diário do Alentejo, pela jornalista Bruna Soares.
Aqui transcrevemos a entrevista completa, que o autor fez o favor de nos enviar por e-mail.
1
- Como surgem os dois volumes de Literatura Tradicional da Serra de São
Mamede (Castelo de Vide, Marvão e Portalegre)?
Os
dois primeiros cadernos que publicam uma parte da literatura tradicional oral
dos concelhos de Castelo de Vide, Marvão e Portalegre são a concretização de um
projecto que acalento há quase duas décadas, desde que comecei a recolher em
várias localidades desses municípios muitos textos quase em vias de
desaparecimento. É um tesouro que não poderia esfumar-se... Sendo uma região
riquíssima em património imaterial, muito felizmente já publicado, precisava de
ver reunidos contributos dispersos, não só para devolver às populações a sua
tradição, como também para pôr à disposição dos investigadores esse material
devidamente organizado. Além disso, tenho em mão uma quantidade impressionante
de recolhas inéditas, efectuadas durante os três anos em que leccionei a cadeira
de Literatura Oral no Instituto Politécnico de Portalegre. O trabalho foi
interrompido com a minha saída da instituição, mas era preciso organizar e
divulgar todo esse arquivo, que conta talvez milhares de textos. Tendo surgido o
convite da parte da presidente do Instituto de Estudos de Literatura
Tradicional, Professora Ana Paula Guimarães, e da responsável pela Apenas
Livros, dra. Fernanda Frazão, aceitei deitar mãos à tarefa com muito
gosto.
2
– O primeiro edita romances religiosos. O segundo edita orações, benzeduras,
ensalmos, esconjuros e orações parodiadas. Seguir-se-á um
terceiro?
Os
dois primeiros cadernos já estão à venda em várias livrarias e no sítio da
Apenas Livros, na internet. As provas do terceiro, que publicará boa parte das
lendas de Castelo de Vide, Marvão e Portalegre, foram entregues esta semana e já
está no prelo. Para já sairão estes três, que receberam financiamento do
IELT/Universidade Nova de Lisboa e de fundos da Fundação para a Ciência e
Tecnologia. Se tudo correr bem, em 2014 serão organizados outros, que publicarão
nomeadamente romances tradicionais, romances vulgares, cancioneiro e contos.
Estou muito satisfeito com esta iniciativa. Apesar da aparência modesta de cada
um dos cadernos, trata-se tão só da editora mais importante no campo da
divulgação da tradição portuguesa.
3
– O que exigiu este projeto de recolha?
Como
disse, foi um projecto construído ao longo de cerca de 20 anos. Exigiu a recolha
junto de vários informantes em muitas localidades da região e a transcrição de
textos a partir de bibliografia (alguma muito difícil de encontrar). O trabalho
não teria sido no entanto tão completo se eu não tivesse contado com a
colaboração de vários colectores que tinham os seus textos na gaveta, como por
exemplo Maria do Carmo Alexandre, Maria Tavares Transmontano, Maria Guadalupe
Alexandre, Maria da Liberdade Alegria e vários alunos meus da Escola Superior de
Educação de Portalegre, cujos trabalhos guardei. Recentemente, tive de proceder
a novas transcrições de parte do espólio e à classificação dos textos. Resta-me
dizer que esta iniciativa é um caminho, não uma meta.
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